Profecia de Shambala

A Profecia de Shambhala

Desde o Tibete antigo, há mais de doze séculos, existe uma profecia relevante para o nosso tempo que evoca os desafios que enfrentamos na Grande Virada e as forças que podemos colocar a seu serviço. Joanna recebeu esse ensinamento em janeiro de 1980 de seu amigo e professor Dugu Choegyal Rinpoche, em Tashi Jong, uma comunidade tibetana exilada no noroeste da Índia.

Existem várias interpretações dessa profecia. Uma delas relata a chegada do reino de Shambhala como um evento interno, uma metáfora da própria jornada espiritual, independentemente do mundo que nos rodeia. Outra interpretação indica que é um evento completamente externo que ocorrerá sem relação a nenhuma ação que possamos tomar. Na versão da profecia entregue a Joanna, o mundo interior e o exterior são inseparáveis. Essa é a percepção do bodisatva, que aparece nessa profecia através da figura do guerreiro de Shambhala.

Assim é como a profecia foi passada a Joanna:

“Chegará um tempo em que toda
a vida na terra estará em perigo.
Grandes poderes bárbaros surgirão.
E, embora estes poderes gastem toda
a sua riqueza em preparações para
aniquilar uns aos outros,
eles têm muito em comum:
armas de devastação incalculável e
tecnologias que arruinam nosso mundo.
E será justo nesse momento,
quando o futuro de todos os seres
estiver suspenso pelo mais frágil dos fios,
que o reino de Shambhala surgirá.”

Não se pode ir até lá, pois não é um lugar.

Existe apenas nos corações e mentes
dos guerreiros de Shambhala.
Na verdade, sequer é possível
reconhecer um guerreiro de Shambhala
ao olhar para ela ou ele,
pois eles não usam uniformes ou insígnias,
não carregam bandeiras para
mostrar de que lado estão.
Não possuem torres as quais possam
subir para ameaçar o inimigo ou
atrás das quais possam descansar e se reagrupar.
Nem possuem um território que
possam considerar seu lar.
Sempre devem se mover pelo terreno dos bárbaros.

Agora é chegado o momento

quando uma grande coragem
– moral e física – é requerida dos
guerreiros de Shambhala,
pois devem penetrar o coração dos
poderes bárbaros para desmontar suas armas.
Armas em todos os sentidos da palavra.
Devem penetrar onde os armamentos
são fabricados e implementados,
e também nos corredores onde
as decisões são tomadas pelos poderosos.

Agora os guerreiros de Shambhala sabem

que essas armas podem ser desmontadas.
Isso porque elas são mano maya – feitas pela mente.
Elas são feitas pela mente humana,
e elas podem ser desfeitas pela mente humana.
Os perigos que ameaçam a vida na Terra
não são impostos a nós por alguma
força extraterrestre ou deidade satânica,
ou mesmo por um futuro predestinado.
Eles surgem de nossas decisões, nossas relações,
nossos hábitos de comportamento e pensamento.

Então, é chegado o tempo quando

os guerreiros de Shambhala treinam.
Como podem imaginar, perguntei:
‘e como eles treinam?’ Ele respondeu que
eles treinam no uso de duas armas.
(Para transmitir-las, o mestre de Joanna
levantou as mãos posicionadas da forma
como os lamas sustentam os objetos ritualísticos,
o dorje e o sino, nas grandes danças dos lamas deste povo).

Uma arma é a compaixão,

e a outra é o insight sobre
a radical interdependência de todos os fenômenos.
Ambas são necessárias. Uma só não é o suficiente.
A compaixão lhe dá o combustível,
a força motivante, para ir aonde você precisa,
fazer o que precisa ser feito.
Em essência, significa não temer a dor do mundo.
Quando você não tem medo da
dor do mundo, nada pode impedir

Mas sozinha, essa arma não é suficiente:

pode lhe esgotar. Então você precisa da outra,
o conhecimento do nosso inter-ser.

Com essa sabedoria, você reconhece

que não é uma batalha entre mocinhos
e bandidos; sabe que a linha entre o bem
e o mal viaja pela paisagem do coração
de todo ser humano.
Sabe que estamos tão entrelaçados
no tecido da vida que até o menor ato
com uma intenção clara tem consequências
além da nossa capacidade de mensurá-las
ou até mesmo vê-las.

Por si só, esse conhecimento pareceria

abstrato e indiferente; assim que, para avançar,
também precisamos do calor da compaixão.”

Essas duas armas do guerreiro de Shambhala representam dois aspectos essenciais do Trabalho Que Reconecta. Uma é a experiência ausente de medo da dor pelo mundo. A outra é a compreensão da conectividade radical de toda a vida. Ao cantar, os monges tibetanos costumam fazer gestos contínuos com as mãos ou mudras. Frequentemente esses mudras representam a inter-relação entre compaixão e sabedoria – uma dança que cada um de nós pode incorporar à sua maneira.

O texto acima faz parte do livro “Coming Back to Life” (Capítulo 4), de Joanna Macy e Molly Young Brown. A tradução para português foi feita por Polliana Zocche, baseada no original em inglês e na tradução para o espanhol de “Nuestra Vida Como Gaia“.


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