Respirando e Deixando Passar

Respirando e Deixando Passar


Quando sentimos dor pelo mundo, o mundo é sentido através de nós. Este é um insight central do trabalho: se os sentimentos do mundo fluem em nós, eles também podem fluir de volta novamente – eles não precisam ficar presos em nós. Um processo chamado ‘Respirando e deixando passar’, adaptado de uma antiga meditação budista para desenvolver compaixão, reforça esse entendimento.

Prática

Fechando os olhos, concentre-se na respiração.
Não tente respirar de nenhuma maneira especial, lenta ou longa.
Apenas observe a respiração enquanto ela acontece, dentro ou fora.

Observe as sensações nas narinas, no peito ou no abdômen.
Mantenha-se passivo e alerta, como um gato à espreita do rato…

Ao observar a respiração, observe que ela acontece por si só,
sem a sua vontade, sem que você decida inspirar ou expirar.
É como se você estivesse sendo respirado - sendo respirado pela vida.

Assim, como todos agora nesta sala, nesta cidade,
neste planeta estamos sendo respirados pela vida, sustentados
numa vasta rede de respiração viva…

Agora visualize sua respiração como uma corrente ou faixa de ar.
Veja-a fluir pelo nariz, pela traqueia e entrar nos pulmões.
Agora passando pelo coração. Imagine-a fluindo através de
seu coração e saindo por uma abertura para se reconectar à Teia da Vida.
Deixe o fluxo da respiração que passa por você e por seu coração
formar um ciclo dentro dessa vasta teia, conectando você a ela.

Agora abra sua consciência para o sofrimento do mundo.
Por enquanto, solte todas as defesas e se abra ao conhecimento
desse sofrimento. Deixe que ele venha o mais concretamente possível…
Imagens de seus semelhantes com dor e necessidade,
com medo e isolamento, em prisões, hospitais, cortiços,
campos de refugiados… sem necessidade de tensão;
elas estão presentes para você em virtude de nossa interexistência.
Relaxe e apenas deixe-as vir à tona… as incontáveis dificuldades
de nossos semelhantes, e também de nossos irmãos e irmãs animais,
que nadam nos mares e voam no ar deste planeta…
Agora inspire a dor, na forma de grânulos de areia na
corrente de ar através de seu nariz, na traqueia, pulmões e coração,
e expire-a para o mundo… Você é convidado a não fazer nada por enquanto,
mas deixe-a passar no seu coração…
Certifique-se que este fluxo entra e sai novamente,
não se agarre a essa dor…
Entregue-a por enquanto aos recursos
curativos da vasta Teia da Vida.

“Que todas as tristezas amadureçam em mim”,
disse Shantideva, o santo budista.
Nós as ajudamos a amadurecer passando-as por nossos corações…
gerando um bom e rico adubo de todo esse sofrimento…
para que possamos aprender com ele,
aprimorando nosso conhecimento amplo, coletivo…

Se nenhuma imagem ou sentimento surgir
e houver apenas o vazio, cinzento e estarrecido, respire.
O torpor em si é uma parte muito real de nosso mundo.

E se o que surge para você não é dor por outros seres,
mas dores e mágoas em sua própria vida,
respire-as através de você também.
Suas próprias dificuldades são parte integrante da tristeza
de nosso mundo, e surgem com ela…

Caso você tema que, com esta dor,
seu coração possa partir-se, lembre-se que
o coração que se abre pode segurar todo o universo.
Seu coração é grande assim.
Confie. Continue respirando.



Essa é uma prática da segunda etapa da Espiral do TQR, chamada “Honrando nossa Dor pelo Mundo”.Esta versão da prática está no livro “Esperança Ativa”. de Joanna Macy e Chris Johnstone (Capítulo 4, páginas 75, 76 e 77). Esse livro foi publicado em português pela Bambual Editora.

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