“Estar totalmente presente ao medo, à gratidão, a tudo o que existe – essa é a prática do pertencimento mútuo. Como membros vivos do corpo vivo da Terra, estamos enraizados nesse tipo de pertencimento. Mesmo diante de mudanças cataclísmicas, nada pode nos separar da Terra. Já estamos em casa.”
Joanna Macy
Ensinamentos Fundamentais do Trabalho Que Reconecta
O Trabalho Que Reconecta foi e continua sendo informado por ensinamentos fundamentais de várias disciplinas inter-relacionadas. Com o passar do tempo e por meio da experiência compartilhada de facilitadores e participantes de todo o mundo, a sabedoria dos ensinamentos a seguir foi entrelaçada para formar a estrutura e os princípios básicos do Trabalho Que Reconecta (TQR).
- Pensamento sistêmico
- Ecologia profunda
- Tempo profundo
- Tradições espirituais antigas e duradouras
- Transformando nossa relação com o poder
- Desfazendo a opressão
Juntos, esses ensinamentos nos convocam para um processo de transformação pessoal e descoberta da conexão coletiva e da ação capacitada a serviço de toda a Vida. Esses ensinamentos fornecem orientação e propósito poderosos para nosso trabalho compartilhado. Ao iniciarmos no Trabalho Que Reconecta, descobrimos que esses ensinamentos transformam a maneira como pensamos sobre o mundo e sobre o nosso lugar nele.
Pensamento Sistêmico
A ciência dos “sistemas vivos” é, em muitos aspectos, uma expressão moderna da sabedoria ancestral. O estudo dos sistemas vivos revela nossa conectividade e até mesmo nossa “identidade” com todos os elementos do universo. Ele afirma nossa verdadeira natureza como seres vivos em um sistema vivo dinâmico, no qual tudo está conectado com tudo e cada coisa que fazemos é importante. O pensamento sistêmico revela como podemos ser agentes ativos de mudança na teia da vida, sabendo que a teia sempre nos sustenta.
A descoberta do pensamento sistêmico por Joanna Macy foi fundamental para o desenvolvimento do Trabalho Que Reconecta. Você pode saber mais sobre a auto-organização da vida no livro Nossa Vida Como Gaia (Capítulo 3, “O Milagre Básico”).
Ecologia profunda
Com raízes no pensamento sistêmico, a Ecologia Profunda celebra a Terra como um sistema vivo auto-organizado e reconhece o valor inerente de todas as formas de vida. Ela nos convida a uma estrutura holística que nos leva além de uma relação centrada no ser humano para o mundo mais que humano, e para um âmbito de profunda interconexão com toda a vida.
A expressão “ecologia profunda” foi cunhada pelo filósofo norueguês Arne Naess em 1973. Os oito princípios da Ecologia Profunda (elaborados por Naess e George Sessions) reconhecem que todas as formas e sistemas de vida têm o direito de viver e florescer, independentemente de seu benefício para os seres humanos, e que as necessidades dos seres humanos não são mais importantes do que as de outros seres. Quando vemos o mundo dessa forma, temos a responsabilidade moral de ajudar a implementar mudanças para curar e sustentar a vida na Terra.
No Trabalho Que Reconecta, nossa compreensão da Ecologia Profunda nos convida a uma conscientização de nossa interconexão radical com toda a vida, nos inspira a um relacionamento mais profundo com a teia da vida por meio de ritos e vivências como a Assembleia de Todos os Seres e a Caminhada Espelho. Esses processos nos inspiram e guiam para o serviço em nome da Vida..
Tempo Profundo
Nas práticas de Tempo Profundo, usamos o dom da imaginação humana para caminhar ao lado de nossos ancestrais (humanos e mais que humanos) e dividimos encontros com os futuros seres da Terra.
A velocidade e a urgência da cultura moderna podem nos deixar “ilhados no presente”, isolados dos ritmos biológicos da vida. O senso expandido de si mesmo que surge nas práticas de Tempo Profundo nos abre para o grande rio do tempo em que vivemos. Nas oficinas, geralmente começamos invocando os Seres dos Três Tempos – os seres do passado, do presente e do futuro da Terra – para que possamos nos unir em solidariedade a eles no serviço à vida.
Os exercícios de Tempo Profundo também podem nos abrir para a dor e os horrores da história humana. Podemos seguir os passos de ancestrais que foram perpetradores e/ou sobreviventes da destruição sistemática da vida e das atrocidades da injustiça humana. Assim, a estrutura e a prática do Tempo Profundo podem iluminar e apoiar o trabalho contínuo de Desfazer a Opressão.
Tradições espirituais originárias e ancestrais
A visão da realidade oferecida pela ciência sistêmica e pela ecologia profunda foi e continua sendo refletida nas tradições espirituais originárias e ancestrais dos povos do mundo. O profundo conhecimento de nossa interconexão, juntamente com a gratidão e a reverência que isso gera, é expresso nas tradições espirituais dos povos originários, no taoísmo, no hinduísmo, no budismo e nas tradições das deusas, bem como nos ensinamentos místicos do judaísmo, do cristianismo e do islamismo.
A gênese do Trabalho Que Reconecta foi fortemente influenciada pelo fascínio de Joanna Macy pela interseccionalidade do budismo e da teoria dos sistemas vivos, descrita em Mutual Causality in Buddhism and General Systems Theory (Causalidade Mútua no Budismo e Teoria Geral dos Sistemas). Muitas práticas do TQR são inspiradas em ensinamentos de várias tradições, incluindo A Sétima Geração, O Check-In do Bodisatva e As Quatro Moradas. Os facilitadores são incentivados a usar ensinamentos e histórias de suas próprias tradições espirituais para aprimorar suas oficinas.
Transformando a nossa relação com o poder
Geralmente pensamos no poder em termos de quem tem poder e quem não tem; quem tem acesso a recursos, riqueza e privilégios e quem não tem. Nessa visão de poder, conhecida como Poder Sobre, alguém ganha e alguém perde. O poder não é compartilhado, ele é exercido por poucos.
O Trabalho Que Reconecta nos convida a uma compreensão diferente e inspirada do poder: Poder Com. Esse poder de mutualidade está disponível para todos nós, não apenas para os poucos privilegiados. Nós o criamos quando nos reunimos, energizados por uma visão de transformação, impulsionados tanto por nossa força interior quanto por nossa cooperação com os outros. Nós nos apoiamos mutuamente por meio de vários pequenos passos, cujo impacto pode ser óbvio apenas com o tempo, quando nos afastamos para ver o panorama geral.
O Poder Com se baseia na sinergia, na qual duas ou mais partes, trabalhando juntas, produzem resultados que não seriam possíveis se cada uma tivesse agido sozinha. Algo novo e imprevisível emerge da interação. O poder da sinergia e do surgimento continua a se desenvolver à medida que trabalhamos, nos comunicamos, sonhamos juntos e sobrevivemos a contratempos. Ao trabalharmos juntos dessa forma, podemos iniciar e sustentar mudanças de longo alcance.
Desfazendo a Opressão
Os movimentos mundiais pela justiça social são fundamentais para a Grande Virada.
A opressão humana está enraizada no modelo de “Poder Sobre”, no qual os “detentores do poder” veem os seres vivos da Terra, humanos e mais que humanos, como separados, para serem controlados e explorados. O trabalho de desfazer a opressão é o trabalho de erradicar o racismo, o classismo, o sexismo e a opressão relacionada à expressão de gênero e cultura. O objetivo é restaurar a rede de pertencimento mútuo. Quando nos engajamos no Poder Com, trabalhamos juntos para construir um mundo que funcione para todos.
O Trabalho Que Reconecta foi desenvolvido em grande parte por pessoas inseridas na cultura branca e colonizadora. Nos últimos anos, os padrões de opressão dentro do Trabalho vieram à tona, graças aos esforços e à liderança dos facilitadores do TQR da Maioria Global. O esforço coletivo de desfazer a opressão dentro da comunidade TQR visa garantir equidade, dignidade e respeito para todos em nossas práticas e em nossa comunidade.
O texto acima foi traduzido do site oficial do Work That Reconnects ( Fundational Teachings )
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