Meditação Gaia
Esta simples meditação guiada, composta por John Seed e Joanna Macy, nos conduz em direção a uma identificação precisa e íntima com os elementos e com as formas de vida que evoluíram na Terra. É uma meditação comumente praticada em pares, para que as pessoas se observem enquanto ouvem as palavras.
Prática
O que é você? O que sou eu?
Ciclos interconectados de água, terra, ar e fogo
– é isso o que eu sou, é isso o que você é.
Água – Sangue, linfa, muco, transpiração,
oceanos interiores atraídos pela lua, marés dentro de nós
e marés fora de nós. Rios que fluem e fazem nossas células flutuarem,
lavando-as e alimentando-as em inúmeros riachos em nossos intestinos,
veias e vasos capilares. A umidade copiosa que nos invade, a mim e a você, continuamente nos percorre e nos abandona, você e eu,
escrevendo este imenso poema do ciclo das águas.
É isso o que eu sou, é isso o que você é.
Terra – Matéria, feita de pedra e solo. Ela também é arrastada
pela lua quando o magma circula pelo coração do planeta
e quando suas moléculas são sugadas pelas raízes das plantas
para sua biologia. A terra nos inunda, nos atravessa e,
a cada sete anos, substitui cada célula de nosso corpo.
Da cinza à cinza, do pó ao pó, nós ingerimos,
incorporamos e evacuamos terra, somos feitos de terra.
Você é isso. Eu sou isso.
Ar – O reino gasoso, a atmosfera, a membrana do planeta.
O inspirar e o exalar. Expirar dióxido de carbono para as árvores
e inalar o frescor oxigenado da sua transpiração.
Oxigênio que com seu beijo desperta cada célula
e metaboliza átomos na dança interpenetrante da vida.
Essa dança do ciclo aéreo, que inala o universo e exala de novo,
é o que você é, é o que eu sou.
Fogo – Fogo do nosso sol, que é combustível para toda a vida,
fazendo subir as plantas, impulsionando as águas para o céu,
para que elas caiam novamente e refresquem a terra.
A fogueira interna do nosso metabolismo queima
com o mesmo fogo original que impeliu a matéria-energia
a girar em espiral através do espaço e do tempo.
Este fogo é o mesmo fogo do relâmpago que foi descarregado
na sopa primordial para catalisar o nascimento da primeira
vida orgânica. Isso é o que eu sou, isso é o você é.
Você estava lá. Eu estava lá, porque cada célula do nosso
corpo é diretamente descendente desse evento
ao longo de uma corrente sem fim. Uma corrente sustentada
pelo átomo desejando a molécula, pela molécula desejando a célula,
pela célula desejando o organismo.
Em meio a essa proliferação de formas, a morte nasceu.
Nasceu simultaneamente com o sexo, antes que
nos separássemos do reino das plantas.
Por isso, em nossa sexualidade, nós podemos sentir
uma conexão ancestral tanto com as plantas,
quanto com a vida animal. Nós viemos deles,
em uma cadeia contínua – somos os peixes que
aprenderam a andar na terra, nossas escamas
transformando-se em penas, em migrações
através das eras do gelo.
Nós temos forma humana há muito pouco tempo.
Se comprimirmos toda a história da Terra em 24 horas,
a vida orgânica só começaria às cinco horas da tarde…
os mamíferos apareceriam às onze e meia da noite…
e entre eles, faltando apenas alguns segundos
para a meia-noite, a nossa espécie.
Em nossa longa jornada planetária, assumimos formas
muito mais antigas do que essas que agora temos.
Recordamos de algumas delas no útero de nossas mães:
assumindo os vestígios de caudas, brânquias,
barbatanas que se tornaram mãos.
Inúmeras vezes nós morremos para as velhas formas,
soltamos velhos hábitos para deixar novos emergirem.
Mas nada nunca é perdido. Embora as formas passem,
tudo retorna. Cada célula consumida é reciclada…
através de musgos, sanguessugas e aves de rapina.
Pense na sua próxima morte.
Ofereça sua carne e ossos ao ciclo novamente.
Renda-se: Deixe-se ser amado pelas minhocas que você se tornará.
Deixe seu cansaço ser limpo na fonte da vida.
Olhando para você, contemplo as diversas criaturas
que compõem você – as mitocôndrias das células,
as bactérias intestinais, a vida que povoa a superfície de sua pele.
A grande simbiose que você é. A incrível coordenação
e cooperação de inúmeros seres. Você é isso, assim como
o seu corpo faz parte de uma simbiose de reciprocidades
ainda mais amplas. Esteja consciente desse dar e receber
quando você andar entre as árvores.
Expire seu dióxido de carbono puro para
uma folha e sinta-a devolver oxigênio fresco
para você.
Lembre-se sempre dos antigos ciclos desse parentesco.
Recorra a eles nestes tempos turbulentos.
Faz parte de sua própria natureza e
à viagem que você empreendeu um saber profundo
sobre esse pertencimento.
Recorra a este pertencimento nesses tempos de medo.
Dentro de você está a sabedoria da terra,
a interexistência com tudo o que existe.
Receba a coragem e o poder desta sabedoria
agora para todos nós despertarmos
neste momento de perigo.
Essa é uma prática presente no capítulo 13 do livro “Nossa Vida Como Gaia” de Joanna Macy e Molly Young Brown. A tradução acima foi feita por Lia Beltrão.
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