“Joanna Macy – Ativista do Empoderamento” Anita Barrows

“Joanna Macy – Ativista do Empoderamento” Anita Barrows

O texto a seguir faz parte do livro “Os 100 Maiores Visionários do Século XX”, organizado por Satish Kumar e Freddie Whitefield em 2006.

A lista inclui visionários ecológicos, sociais e espirituais. Dentre eles está um dos professores de Joanna Macy, Arne Naess, que criou o termo “Ecologia Profunda, e também figuras como Vandana Shiva, S.S. Dalai Lama, James Lovelock, Rachel Carson, José Lutzenberger, Mahatma Gandhi…


Budista, ativista, estudiosa e professora, Joanna Macy tem trabalhado ao redor do mundo nos últimos vinte anos no enfrentamento da crise espiritual e ambiental global. Em 1972, em uma conferência sobre religião e psicologia, Joanna Macy teve um sonho. Nele, viu-se em uma paisagem desolada. Ela havia decidido ir até lá, mas percebeu que não havia como sair daquela situação sufocante. Em meio à escuridão, uma voz ecoou no sonho de Joanna: uma mulher na sala entoava “O Senhor nosso Deus é Único”. Joanna entendeu que, realmente, essa presença singular e unificadora estava em toda parte, até mesmo lá, naquele lugar devastado onde ela estava presa. A voz lhe deu a inspiração para apreciar a beleza do lugar e lhe fez entender que não havia nada de errado com o fato de ela estar lá. Para Joanna, o mundo não é mais uma armadilha.

Joanna traz para seu trabalho uma poderosa combinação entre sentimentos profundos, lucidez intelectual e carisma pessoal. É uma visionária; sua visão consiste em possibilidades transformadoras existentes nos seres humanos.

Joanna Macy – Fonte: joannamacy.net

Social e politicamente ativa durante a vida adulta, começando com o movimento americano pelos direitos civis, Joanna Macy dedicou seus esforços em muitas direções. Na atualidade é mais comumente associada ao movimento da Ecologia Profunda, trabalhos de superação do desespero e empoderamento e, mais recentemente, com o Nuclear Guardianship Project, que criou em 1988.

Joanna Macy nasceu em 1929 e foi criada em Nova York. Os momentos mais felizes de sua vida foram durante os verões que passava na fazenda dos avós no oeste do mesmo estado. Uma experiência de conversão em um acampamento da igreja quando tinha 16 anos a levou a sentir que tinha vocação para o serviço no seio da Igreja.

Formou-se em estudos bíblicos pelo Wellesley College e, logo depois, acabou ganhando uma bolsa de estudos Fulbright e foi estudar economia, marxismo e nacionalismo no Terceiro Mundo. Nos anos 1960, partiu com Francis, seu marido, e os três filhos para a Índia, onde Francis trabalhava como administrador do Corpo da Paz. Lá, no norte da Índia, Joanna conheceu os tibetanos. Depois de passar um ano ajudando-os a reconstruir a comunidade deles, pediu que lhe dessem aulas de meditação.

Joanna Macy, – Fonte: Yoga Journal (Jan/Feb 1985)

Ao voltar para os Estados Unidos, Joanna matriculou-se em um programa de doutoramento em religião (com ênfase em estudos budistas) na Universidade de Syracuse. Ali, uma inusitada conjugação de elementos aparentemente discrepantes - filosofia oriental antiga e filosofia ocidental contemporânea - estimulou-a a avançar para a fase seguinte de seu trabalho. Impressionada com a “beleza revolucionária”, nas palavras dela, da teoria geral dos sistemas, achou que ela complementava profundamente os ensinamentos budistas.

Ambas filosofias afirmam a interligação entre todas as coisas e descrevem a causalidade como residente nas relações, em vez de nos indivíduos ou nas instituições. Até mesmo o eu, visto sob essa luz, é uma construção fluida. Conceitos tradicionais do eu, argumenta Macy, estreitaram os horizontes não só de nossa cognição, mas também de nossa compaixão; somente quando percebemos que estamos inextricavelmente enredados em um todo maior conseguimos começar a perceber as necessidades do próximo. A ação social responsável, pondera Macy, surgirá então da forma mais eficaz a partir da compreensão de que o interesse de um é o interesse de todos.

O que Joanna Macy ensina se origina de dois lados de sua natureza: sua abertura incomum a experiências de tristeza e angústia e sua disciplina intelectual, igualmente incomum. Fundamental ao método de ensino dela é a necessidade de não negar nossos sentimentos de desespero nem permitir que nos impeçam de agir. Amar o mundo significa, para Joanna, amar não apenas a “natureza intocada” mas também abraçar todo o restante dela. Quando lhe falei sobre o desejo que muitos revelam hoje de abandonar os problemas da vida urbana moderna e “ir dançar na floresta”, ela olhou pela janela, por sobre os telhados de Berkeley até as chamas das refinarias petrolíferas de Richmond e disse: “Talvez tenhamos que aprender, em vez disso, a dançar nos depósitos de lixo atômico.”

— Anita Barrows, 2006


O texto acima, escrito por Anita Barrows, foi copiado do livro “Os 100 Maiores Visionários do Século XX”, organizado por Satish Kumar e Freddie Whitefield.

Joanna Macy foi incluída na lista de “Visionários Espirituais”, da qual também fazem parte o monge budista Titch Nhat Hann, os poetas Rabindranath Tagore e Kahlil Gibran, Sua Santidade o Dalai Lama, o padre Matthew Fox e a escritora Starhawk.

Anita Barrows trabalhou junto com Joanna Macy na tradução de poemas de Rainer Maria Rilke. Ela é psicologa clínica e poeta.


Deixe um comentário

Deixe um comentário